O grupo de partidos do Centrão intensificou nos últimos dias a pressão sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), para que ele rompa um acordo político firmado com o PT que previa a indicação do deputado Carlos Zarattini (PT-SP) como relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026.
A movimentação ocorre em meio à disputa pelo controle do Orçamento em um ano eleitoral, quando a liberação de verbas públicas se torna peça-chave na estratégia de reeleição de deputados e senadores. O Centrão quer um nome menos alinhado ao Palácio do Planalto para comandar a relatoria e, assim, ter mais liberdade para priorizar a execução das chamadas emendas parlamentares – especialmente as de relator e individuais – em detrimento dos investimentos estratégicos do governo federal.
Embate político
Zarattini foi indicado ao cargo como parte de um acordo entre o governo e partidos da base para pacificar tensões na Comissão Mista de Orçamento (CMO). No entanto, líderes do Centrão argumentam que a presença de um petista no posto pode engessar a distribuição de recursos e favorecer projetos de interesse direto do Executivo.
“O governo quer ter o controle da execução orçamentária em 2026, mas é o Parlamento quem sabe onde o dinheiro precisa chegar. Não faz sentido colocar um aliado do Planalto como relator”, afirmou, sob reserva, um influente deputado do PP.
Disputa por poder e verbas
A LDO é um dos instrumentos mais importantes para o planejamento do gasto público no ano seguinte. Nela, são fixadas as metas fiscais, regras para execução das despesas e prioridades de investimentos. O relator tem papel decisivo na redação final do texto, podendo incluir dispositivos que ampliem o poder do Congresso sobre a execução das verbas.
Em 2026, a disputa se torna ainda mais crítica por ser um ano de eleições presidenciais, quando a alocação de recursos tende a ser ainda mais disputada. A antecipação da liberação de emendas e a flexibilização de regras fiscais são dois pontos sensíveis em discussão.
Governo tenta conter crise
Integrantes do governo Lula têm buscado conter a pressão sobre Motta e evitar a quebra do acordo com o PT, temendo que a decisão provoque uma nova crise entre o Executivo e sua base no Congresso. “Não é o momento de mais desgaste político. O governo precisa de estabilidade para aprovar pautas econômicas ainda este ano”, disse um assessor do Planalto.
Apesar disso, interlocutores de Hugo Motta afirmam que o presidente da Câmara ainda não tomou uma decisão definitiva sobre o nome do relator. Nos bastidores, outros parlamentares já começaram a se movimentar como possíveis alternativas, caso Zarattini seja vetado.
Próximos passos
A definição sobre a relatoria da LDO deve ocorrer nas próximas semanas, com a instalação formal da Comissão Mista de Orçamento. Até lá, a tensão nos bastidores deve continuar alta, com o Centrão tentando ampliar seu espaço nas discussões orçamentárias e o governo tentando preservar sua influência sobre o texto da LDO.
A disputa é mais um capítulo da batalha travada no Congresso em torno do Orçamento secreto, das emendas parlamentares e da autonomia do Legislativo na definição de prioridades para os gastos públicos – uma tendência que se intensificou nos últimos anos e que promete marcar o cenário político até as eleições de 2026.