O Papa Leão XIV, em sua primeira entrevista oficial desde que assumiu o papado, fez críticas contundentes à desigualdade econômica global, em especial à disparidade entre os salários de executivos de grandes corporações e os trabalhadores comuns. Um dos alvos simbólicos do pontífice foi Elon Musk, bilionário dono da Tesla e SpaceX, que segundo estimativas recentes pode se tornar o primeiro trilionário da história.

“Ontem, li a notícia de que Elon Musk está prestes a se tornar o primeiro trilionário do mundo. O que isso significa e do que se trata? Se essa é a única coisa de valor hoje, então estamos em apuros”, declarou o Papa, em entrevista à jornalista americana Elise Ann Allen. A conversa será publicada integralmente no livro biográfico “Leão XIV: cidadão do mundo, missionário do século XXI”, com lançamento previsto para esta quarta-feira (18/9).

Segundo o pontífice, a crescente concentração de riqueza nas mãos de poucos e os pacotes bilionários de remuneração para executivos de grandes empresas são um reflexo de valores distorcidos. Ele mencionou dados que indicam que, atualmente, CEOs de empresas podem ganhar até 600 vezes mais que os funcionários médios — uma diferença que, segundo ele, agrava as injustiças sociais.

“Há algumas décadas, essa diferença era de quatro a seis vezes. Hoje, falamos de centenas. O que mudou? O valor da dignidade do trabalhador ou o modo como calculamos sucesso?”, questionou.

Leão XIV também afirmou que não se trata de uma crítica pessoal a Musk, mas de uma reflexão mais ampla sobre o modelo econômico dominante. “Não é sobre nomes. É sobre sistemas. A questão é: qual mundo estamos construindo?”, afirmou.

A fala do pontífice repercutiu imediatamente em veículos internacionais como o Crux (EUA), El Comercio (Peru), Reuters e The Guardian. Especialistas em ética social apontam que a crítica se alinha à tradição da Doutrina Social da Igreja, que há décadas adverte sobre os perigos da desigualdade econômica e da idolatria do mercado.

O Papa, conhecido por sua linguagem clara e postura progressista desde o início do pontificado, reforçou a ideia de que a economia deve estar a serviço das pessoas e não o contrário. “Se o valor de um ser humano é reduzido ao que ele produz ou consome, perdemos algo essencial da nossa humanidade”, concluiu.