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O que se sabe e o que falta esclarecer sobre a megaoperação nos complexos do Alemão e Penha, no Rio

megaoperação realizada nos complexos da Penha e do Alemão, que deixou mais de 120 mortos, segue cercada de dúvidas e versões conflitantes.

Enquanto o governo estadual e as forças de segurança defendem a ação como “legal e necessária” para desarticular a cúpula do Comando Vermelho (CV), especialistas e organizações de direitos humanos cobram transparência sobre as circunstâncias das mortes, o uso de câmeras corporais e a situação dos corpos encontrados na área de mata.

Entre as muitas perguntas sem resposta estão: o que aconteceu com as gravações das câmeras policiais, como se deu o chamado “muro do Bope”, de que forma ocorreram as mortes na mata e quem eram, de fato, as vítimas.

Abaixo, o g1 reúne o que já se sabe — com base nas declarações oficiais — e o que ainda falta esclarecer sobre os principais pontos da operação que transformou a Penha e o Alemão em palco de um dos episódios mais violentos da história recente do Rio.

O que se sabe:

O secretário da Polícia Militar, Marcelo de Menezes, afirmou que o uso de câmeras corporais foi adotado durante a megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão. Segundo ele, “todos os requisitos da ADPF foram observados” e “a presença de câmeras corporais também aconteceu”, em referência à determinação do Supremo Tribunal Federal que impõe regras para operações em favelas.

🔎ADPF é uma sigla para Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. Em abril, o Supremo Tribunal Federal (STF) validou um conjunto de regras que definem como devem ser feitas as operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro.

As baterias das câmeras têm duração aproximada de 12 horas e parte das imagens pode ter se perdido por falta de bateria. A operação começou a ser preparada por volta das 3h de terça-feira (28), com as tropas em movimento a partir das 5h. Em meio à ação, nem todas as câmeras puderam ter as baterias substituídas ou recarregadas, o que pode ter causado a perda de parte das gravações.

O que falta esclarecer:

Ainda não está claro quantos policiais usavam câmeras corporais no momento da operação, quantas imagens foram de fato gravadas e em que momento os registros foram interrompidos. Também não há informação sobre como será feita a análise e a divulgação dos vídeos captados pelas equipes.

‘Muro do Bope’

O que se sabe:

As forças de segurança montaram o chamado “Muro do Bope” — uma estratégia em que policiais entraram pela Serra da Misericórdia para cercar os criminosos e empurrá-los em direção à mata, onde outras equipes do Batalhão de Operações Especiais já estavam posicionadas. Segundo o secretário da Polícia Militar, Marcelo de Menezes, o objetivo era conter os confrontos e proteger os moradores, criando uma linha de bloqueio entre as duas comunidades.

O secretário explicou que as tropas foram distribuídas por diferentes pontos dos complexos, com unidades da PM e da Polícia Civil atuando em áreas estratégicas para fechar o cerco. Segundo ele, a maior parte dos confrontos ocorreu na mata, onde os criminosos teriam se refugiado, e a escolha por esse tipo de enfrentamento.

O que falta esclarecer:

Ainda não há informações sobre como a estratégia do “Muro do Bope” influenciou o número de óbitos e quantos, dos mais de 120 mortos, foram encurralados nessa região de mata.

Corpos na mata

O que se sabe:

As autoridades de segurança afirmam que não tinham conhecimento da presença de corpos na mata dos complexos da Penha e do Alemão, onde ocorreram intensos confrontos durante a megaoperação.

Segundo o secretário de Segurança Pública, Victor Santos, os agentes não puderam atuar na retirada das vítimas porque o foco naquele momento era a preservação da própria vida dos policiais. Ele destacou que a corporação não tinha sequer ciência da existência desses corpos.

O que falta esclarecer:

Ainda não há informações precisas sobre quantos corpos foram encontrados, como será feita a identificação das vítimas e se haverá perícia independente para apurar as causas das mortes. Também não está definido quando as equipes policiais e peritos retornarão ao local para realizar os procedimentos formais.

Moradores retirando os corpos

O que se sabe:

O secretário da Polícia Civil, Carlos Oliveira, explicou que o procedimento padrão prevê o acionamento da Delegacia de Homicídios, a realização de perícia e, só então, a remoção dos corpos. No entanto, nesta quarta-feira (29), moradores e familiares retiraram mais de 70 corpos da área de mata no Complexo da Penha e os levaram para uma praça do bairro, impossibilitando a atuação formal da polícia naquele momento.

O secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, afirmou que será investigada uma possível fraude processual envolvendo a remoção dos corpos. Ele destacou que muitos dos indivíduos encontrados surgiram vestindo roupas simples, sem coletes ou armamentos, diferentemente do que indicavam imagens da operação, e que há registros mostrando pessoas retirando os corpos da mata e levando-os para vias públicas. A 22ª Delegacia de Polícia instaurou um inquérito para apurar o caso.

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