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A Comissão Pastoral da Terra (CPT) já registrou quatro assassinatos de camponeses em 2022, no contexto de conflitos por terra – no Maranhão, em Pernambuco e no Amazonas. E aguarda mais informações para incluir a morte de três pessoas em São Félix do Xingu, no Pará. Em todos os casos, além do histórico de resistência das famílias à investida de grileiros e fazendeiros, filhos ou netos dos camponeses foram atingidos por tiros. Uma adolescente de 17 anos morreu e uma criança de 9 anos foi executada. Duas meninas de 10 e 13 anos foram baleadas.
Era uma quinta-feira (dia 09), por volta das 21 horas, quando sete homens encapuzados e armados chegaram no Engenho Roncadorzinho, no município de Barreiros, na região da Mata Sul de Pernambuco. Enquanto dois ficavam do lado de fora, cinco pistoleiros invadiram a casa de Geovane da Silva Santos, presidente da associação local de moradores. Seu filho Jonathas, de 9 anos, brincava com duas primas menores quando um tiro atingiu o ombro do pai, que conseguiu fugir.
A criança correu para o quarto dos pais para se esconder debaixo da cama. A mãe contou que os pistoleiros puxaram o menino e ignoraram seus apelos: Jonathas foi executado com um tiro. Testemunhas dizem ter ouvido os pistoleiros falarem entre eles: “o coroa não”. O “coroa” seria Geovane.
A casa da família havia sofrido recentemente duas invasões, quando criminosos levaram uma televisão e um celular. Outras casas da comunidade não sofreram com o mesmo tipo de ataque. Os que acompanham o caso confirmam que Geovane é um trabalhador que não têm histórico de atritos, inimigos ou dívidas, salvo a questão fundiária.
FAMÍLIA MORTA NO SUL DO PARÁ CRIAVA TARTARUGAS
A adolescente Joane Nunes Lisboa, de 17 anos, foi morta junto com os pais José Gomes e Marcia Nunes Lisboa em São Félix do Xingu (PA), a capital da pecuária no Brasil. Seus corpos foram encontrados na propriedade da família. Nenhum pertence foi levado. Após o massacre, foram recolhidas dezoito cápsulas das armas utilizadas. A família vivia na Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu. Desenvolvia trabalhos de preservação da floresta e mantinha um projeto de reprodução de tartarugas.
“Nos últimos anos o desmatamento para exploração de madeira e criação extensiva do gado tem avançado de forma descontrolada dentro da reserva”, informou a CPT, em nota, “se aproximando cada vez mais da região onde a família de Zé do Lago tinha sua propriedade”. O comunicado lembra que nas últimas quatro décadas 62 trabalhadores rurais e líderes em conflitos de terra foram mortos no município onde o casal morava. Os casos continuam impunes.
“Aqui em Pernambuco eu não conheço precedentes de violência assim contra crianças”, conta Bruno Ribeiro, advogado da Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco (Fetape) e da CPT. “E eu acompanho há muito tempo essas situações de conflito no campo”.
Segundo o advogado, as crianças sofrem com os despejos, têm traumas relacionados à violência contra as famílias, mas a agressão direta é um dado novo. Para as organizações que acompanham o caso Jonathas, não foi uma morte acidental: não havia tiros no colchão, por exemplo.
Informações do site racismo ambiental