Encontro em churrascaria, cerveja no Alvorada e drible em Gilmar levaram Kassio ao STF

Reportagem publicada na edição impressa deste domingo do jornal Folha de S Paulo informa que uma amizade entre Jair Bolsonaro e Kassio Nunes Marques, iniciada antes de 2018 e que cresceu e se consolidou após a eleição presidencial foi que levou o presidente a indicar o atual ministro para a vaga de Celso de Mello no Supremo Tribunal Federal.

 

A reportagem intitulada “Encontro em churrascaria, cerveja no Alvorada e drible em Gilmar levaram Kassio ao STF”, assinada por Bruno Boghossian indica que, quando ainda desembargador do Tribunal Regional da 1ª Região, Nunes Marques conheceu o então deputado federal Jair Bolsonaro r acaso numa churrascaria instalada numa casa simples da Vila Planalto, a 10 minutos do Congresso e dos tribunais de Brasília.

O jornal classifica o encontro como “acidental” e pontua que “abriu caminho para uma relação que, dois anos depois, resultaria numa indicação para o STF (Supremo Tribunal Federal) que surpreendeu ministros da corte, políticos, aliados de Bolsonaro e amigos de Kassio.

O encontro “acidental” deu-se quando a candidatura de Bolsonaro ganhava visibilidade, mas “pouca gente já apostava que ele chegaria ao Palácio do Planalto” Nesse mesmo período, observa o jornal paulistano, o agora ministro Nunes Marques era vice-presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região e vivia em campanha por uma cadeira no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Para o jornal o encontro de Bolsonaro e Nunes Marques numa churrascaria de menor importância “foi o primeiro capítulo de um processo de aproximação que se manteve praticamente desconhecido, uma vez que Kassio não integrava nenhuma lista de cotados para o STF”.

Mas se não estava em lista de cotados para o STF, o desembarhador federal Kassio Nunes Marques habitava a intimidade de Bolsonaro. Segundo a Folha, ele frequentava o Palácio da Alvorada para assistir a partidas de futebol com o presidente e beber cerveja.

Essa relação de proximidade teve sementes lançadas após o encontro “acidental”, observa a Folha, porque,  em agosto de 2018, “depois do encontro no restaurante, Bolsonaro esteve no gabinete de Kassio no TRF-1 com a bancada ruralista.”

Relata a Folha que os parlamentares pediram e conseguiram de Nunes Marques decisão para suspender liminar que suspendida o registro de agrotóxicos contendo glifosato, substância apontada como provavelmente cancerígena.
Ainda segundo a reportagem Bolsonaro ficou com boa impressão do magistrado após o encontro com a bancada ruralista. Teria identificado em Nunes Marques um juiz disposto a ouvir o pleito dos ruralistas e seguir uma visão que ele considerava importante.

Relata ainda o jornal que na reta final da campanha eleitoral Nunes Marques esteve na casa de Bolsonaro, no condomínio Vivendas da Barra, no Rio.
Nunes Marques visitou o Bolsonaro para desejar uma boa recuperação após a facada recebida em Juiz de Fora. Os dois voltaram a conversar quando o juiz telefonou para parabenizar Bolsonaro pela vitória na eleição.

Relata a Folha que Nunes Marques acreditava que a proximidade com Nolsonaro lhe daria a chance de chegar a uma cadeira no STJ, que ele já tinha tentado sem sucesso desde 2015, quando disputou uma cadeira, mas, por pouco, não teve votos suficientes na eleição para a lista tríplice. Mas, segundo a Folha, a ligação direta com o presidente da República era agora praticamente uma garantia de nomeação.

“OS DOIS VIRARAM AMIGOS”

A reportagem da Folha diz, contudo, que havia uma relação de amizade grande entre o presidente e o juiz Nunes Marques.
Segundo o jornal, “os dois viraram amigos” e isso levou Bolsonaro a uma vez instalado como o principal inquilino do Palácio da Alvorada, convidar Kassio para visitá-lo. O juiz, torcedor do Flamengo, via os jogos de seu time com o presidente em alguns finais de semana.
“Os encontros alimentaram uma relação de confiança, que só se tornaria pública tempos depois. Era nessas ocasiões que os dois conversavam enquanto tomavam cerveja (Bolsonaro não era um abstêmio, mas bebia pouco, de acordo com aliados)”, diz a reportagem.
Por isso é que quando saiu a indicação de Nunes Marques, narra a reportagem, “não era figura de linguagem, portanto, a explicação que Bolsonaro deu após indicar Kassio. “Eu até falei: olha, esse cara tem que tomar uma cerveja comigo, ou tubaína. Eu não vou indicar um cara só pelo currículo”, disse o então presidente numa entrevista em 10 de outubro de 2020.”

E as conversas não eram sobre futebol, diz a Folha: “No Alvorada, os dois conversavam sobre uma agenda que Bolsonaro considerava central para o Judiciário. Ainda que não sondasse o católico Kassio para o STF, o então presidente enxergava suas credenciais conservadoras.”

O jornal lembra a fala do presidente mostrando que o teor das conversas foi além do compartilhamento da cerveja e da tubaína: “Se a gente estiver tomando refrigerante juntos, nós temos coisa em comum para discutir: a questão do aborto, família, armamento, política externa, livre mercado, essas coisas. O que eu transmito se eu estou tomando uma tubaína contigo? O que quer dizer? Que nós somos amigos.”

INDICAÇÃO CONSOLIDADA

A reportagem da Folha indica que “em meados de 2020, a amizade consolidou Kassio como o candidato da família Bolsonaro para uma vaga que seria aberta no STJ no final do ano. Àquela altura, o senador Flávio Bolsonaro (RJ) levava Kassio a encontros com parlamentares e ministros de tribunais superiores em busca de apoio para aquela cadeira”.
Narra o jornal que Nunes Marques estavam “acompanhados pela juíza federal Maria do Carmo Cardoso, do TRF-1, conhecida como Tia Carminha. O senador e a juíza são apontados como aqueles que, mais tarde, levariam a Bolsonaro argumentos para indicar Kassio para o STF, não para o STJ —mas a relação com o presidente pesou mais que qualquer apadrinhamento.”

Lembra o jornal que “o processo de escolha foi apressado nos últimos dias de setembro de 2020, quando Celso de Mello comunicou ao STF a antecipação de sua aposentadoria. O ministro deveria deixar a corte em 1º de novembro, mas marcou a saída para 13 de outubro.”

Fonte: Com informações da Folha de São Paulo

 

Raiane Borges de Oliveira

Raiane Borges de Oliveira

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