O governo Lula (PT) avalia o preço político da indicação de Flávio Dino para o STF (Supremo Tribunal Federal) após ser informado de que a aprovação não será tranquila como a de Cristiano Zanin, que assumiu a vaga anterior aberta na corte. A oposição tenta deixar claro ao Palácio do Planalto que a postura de Dino à frente do Ministério da Justiça e em comissões do Congresso tem irritado os parlamentares, o que reforça a resistência a seu nome. Nas palavras de um oposicionista que votou a favor de Zanin em junho, a operação pró-Dino pode ter alto custo político para Lula e resultado duvidoso. Uma das preocupações da oposição é a de que, no Supremo, Dino reproduza o comportamento de “xerifão” que tem imprimido no Ministério da Justiça. Parlamentares da oposição também batem na tecla de que Dino pode repetir o modus operandi do ministro do STF Alexandre de Moraes e ampliar o que eles veem como perseguição ao bolsonarismo. A oposição também faz questão de marcar a diferença entre o perfil de Dino e Zanin, afirmando que o último nunca se aventurou na política. Na semana passada, a votação do indicado de Lula para a DPU (Defensoria Pública da União) acendeu o alerta no governo. Na ocasião, o Senado rejeitou o nome designado pelo petista para chefiar o órgão. A avaliação é a de que o placar apontou que existe uma fila de senadores da base com quem o governo precisa azeitar a relação. Como mostrou a “Folha”, assessores do Planalto avaliam que ao menos 12 parlamentares da base votaram contra o nome de Roque na sessão secreta que acabou com o placar de 38 votos contra e 35 a favor. Senadores da base minimizam o risco de uma eventual derrota de Dino com o argum
ento de que o titular da DPU não tem o mesmo peso de um futuro ministro do Supremo, com quem nenhum político gostaria de se indispor. Justamente por isso, a ala mais pragmática da oposição também lembra que poucos senadores vão manifestar publicamente suas restrições.
Pacheco e Alcolumbre têm afirmado que senadores se sentiriam prestigiados porque Dino é senador. Os dois, no entanto, lembram dos outros candidatos, o advogado-geral da União, Jorge Messias, e o presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), Bruno Dantas – concursado do Senado e escolhido para o tribunal pela Casa. Até mesmo senadores considerados menos radicais afirmam que não pretendem receber Dino para conversar. Eles lembram que, antes de ser aprovado, Zanin só não procurou um único senador: o ex-juiz da Lava Jato, Sergio Moro (União Brasil-PR).