O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a agitar o cenário político ao anunciar sua intenção de classificar o movimento Antifa como uma organização terrorista. A declaração foi feita durante um comício recente, onde Trump não poupou críticas aos grupos que, segundo ele, representam uma ameaça à ordem pública e aos valores americanos. “Vamos designar o Antifa como uma grande organização terrorista”, afirmou, sendo ovacionado por seus apoiadores. Ele descreveu o movimento como “um desastre radical de esquerda, doente e perigoso”, acusando seus membros de promoverem violência e desestabilização social em nome de causas políticas.
A proposta, no entanto, levanta uma série de controvérsias jurídicas e políticas. Nos Estados Unidos, não existe um arcabouço legal claro para declarar grupos domésticos como organizações terroristas, diferentemente do que ocorre com grupos estrangeiros. Especialistas em direito constitucional alertam que uma medida como essa pode colidir com proteções garantidas pela Primeira Emenda da Constituição, como a liberdade de expressão e o direito de associação. Além disso, o Antifa não é uma organização formal, com liderança definida ou estrutura hierárquica. Trata-se, na verdade, de um movimento descentralizado, formado por ativistas que se identificam com ideais antifascistas, antirracistas e anarquistas, frequentemente organizando ações locais sem coordenação nacional.
A retórica de Trump contra o Antifa já havia se intensificado durante os protestos antirracistas que ocorreram em 2020, quando ele também ameaçou classificar o grupo como terrorista. À época, o Departamento de Justiça dos EUA não deu seguimento à ideia, justamente por limitações legais e dificuldades práticas. Agora, com Trump novamente em destaque no cenário político e mirando as eleições presidenciais de 2026, a reativação desse discurso parece ter motivações tanto ideológicas quanto estratégicas, visando mobilizar sua base eleitoral mais conservadora.
Grupos de direitos civis e opositores políticos já reagiram à fala do ex-presidente, acusando-o de tentar criminalizar a dissidência política e silenciar vozes progressistas sob o pretexto de segurança nacional. Eles alertam que tal classificação pode abrir precedente perigoso para que outros movimentos sociais ou políticos sejam alvos de repressão, especialmente em um contexto de crescente polarização nos Estados Unidos. Até o momento, Trump não apresentou detalhes legais ou operacionais de como pretende implementar essa designação, tampouco indicou qual agência federal seria responsável pela classificação. A proposta, portanto, segue envolta em incertezas jurídicas e com grande potencial de gerar disputas nos tribunais e nas urnas.