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Nunca, desde 1989, os brasileiros estiveram com suas intenções de voto para presidente tão na ponta da língua, a dois meses das eleições. É o que revela levantamento do Pulso. No maior índice desde a redemocratização, sete em cada dez eleitores declaram seu candidato preferido de forma espontânea na pesquisa Datafolha, ou seja, sem antes olhar uma lista com o nome de todos os concorrentes. O Pulso comparou dados de pesquisas espontâneas feitas pelo Datafolha em eleições passadas durante essa mesma época do ano. Esse tipo de pergunta, na qual o entrevistado não tem acesso a um cardápio com o nome de todos os candidatos, ajuda a medir quais nomes estão na cabeça do eleitorado e qual o nível de consolidação do voto.
Este ano, apenas 27% dizem não saber em quem votar — menor percentual desde a redemocratização do país. Nos demais pleitos, esse número sempre esteve acima de 40%, passando até a casa dos 50% em eleições como a de 2014, protagonizada pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e por Aécio Neves (PSDB). Outra mudança é em relação aos eleitores que rejeitam votar em qualquer candidato à Presidência. Branco, nulo e nenhum somavam 23,2% em meados de junho de 2018, resultado da descrença do eleitorado na política. Agora, porém, o percentual regrediu para 6%, dentro de uma média histórica, mostrando um enfraquecimento do discurso da antipolítica em detrimento da maior polarização. Para o cientista político e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco Joanildo Burity, o baixo número de pessoas dizendo que vão anular seus votos em contraste com um alto índice de escolhas mesmo antes de a campanha começar oficialmente significa uma eleição mais politizada.
Quanto mais Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ocupa seu espaço após as decisões que lhe devolveram os direitos políticos, mais ele demarca até onde Bolsonaro pode ir. Temos a materialização da fronteira política entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL), que organiza todo o cenário político do país em 2022. Um ponto central de análise é essa figura central que Lula ocupa no cenário político brasileiro. Antes mesmo da eleição, quando Lula retomou os direitos, as duas fronteiras políticas já se estabeleceram e o processo eleitoral está se tornando plebiscitário por causa da volta de Lula. É uma eleição politizada, sim — analisa o professor, especializado em ideologia e análise de discurso.
Para sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, o fenômeno de uma eleição mais “politizada” em 2022, ou seja, com menos pessoas dizendo que vão anular o voto e mais eleitores já afirmando espontaneamente qual candidato será o escolhido em outubro está diretamente ligado à “oferta” de candidaturas:
— Se nem Lula, nem Bolsonaro fossem candidatos, o nível de brancos, nulos e indecisos seria bem mais elevado. Na verdade, é pela oferta dos dois candidatos superpopulares. Pela primeira vez, um presidente e um ex-presidente disputam uma eleição. A consequência é a redução da alienação eleitoral. Eu teria receio de chamar de politização elevada. Chamaria de uma característica singular dessa oferta de candidatos nesse ano de 2022.
O levantamento do Pulso mostra ainda que o ex-presidente Lula desfruta de sua melhor performance este ano. O petista é citado espontaneamente como candidato preferido ao Planalto por 38% dos eleitores no Datafolha de julho, desempenho melhor do que em 2006, quando disputou a reeleição e aparecia com 28,1% na espontânea.
O presidente Jair Bolsonaro também se sai melhor este ano: tem 26% contra 11,9% em 2018, quando ainda era desconhecido de uma parcela dos brasileiros. O ex-governador Ciro Gomes (PDT) se manteve praticamente na mesma nos últimos quatro anos segundo dados do Datafolha no Cesop/Unicamp. Tinha 2,1% e agora está com 3%. Em 2002, o pedetista alcançou 4,5% na espontânea, seu melhor resultado para esta época da disputa eleitoral.
Informações – Jornal O Globo.