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Com vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em todos os estados do Nordeste, diversos comentários preconceituosos contra eleitores da região foram publicados nas redes sociais, vindos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), adversário do petista. Lei Nº 9.459, de 13 de maio de 1997, prevê pena de um a três anos de prisão e multa para quem cometer discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
O movimento xenófobo contra nordestinos após resultados eleitorais se tornou praxe, tendo acontecido com força também em 2014 e 2018, após vitória de Dilma Rousseff e após a região evitar a vitória de Bolsonaro em primeiro turno no último pleito. Este ano, a apuração se iniciou por regiões que deram vantagem ao presidente Jair Bolsonaro, como o Distrito Federal e estados do Sul e Centro-Oeste. No final, o Nordeste, somado a quatro estados do Norte (Pará, Amazonas, Tocantins e Amapá) e Minas Gerais, ajudaram Lula a reverter a desvantagem e o deixaram com 48,24% dos votos válidos, contra 43,36% de Bolsonaro. O comentarista político Rodrigo Constantino publicou uma imagem de um mapa do Brasil em que o Nordeste estava pintado de vermelho, separado do restante do país com uma tarja escrita “Cuba do Sul”. Os brasileiros que vivem no país socialista deram a Bolsonaro apenas um voto. Na legenda, acusou os nordestinos de receberem “assistencialismo”.
Ao contrário do que foi apontado por Constantino, assistencialismo é uma prática política de compra de votos, comum na República Velha (1889-1930), em que os políticos coagiam eleitores, seja por ameaças ou por favores, a votarem em seus aliados. Políticas de assistência social e transferência de renda modernas não exigem contrapartidas políticas, sendo feitas em países das mais diferentes linhas ideológicas, defendidas até mesmo por teóricos liberais. Além disso, a atual política de transferência de renda é o Auxílio Brasil, uma repaginação do Bolsa Família, feita pelo atual governo, mas que não necessariamente conquistou eleitorado.
Outro tweet apontou para indicadores piores na região nordestina. No entanto, com 9 estados, é impreciso generalizar, pois as qualidades e desafios são diferentes em cada local.
Além disso, o Nordeste colocou quatro estados entre os dez estados brasileiros que mais avançaram no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do ensino médio entre 2005 e 2017, sendo eles Pernambuco, Piauí, Maranhão e Ceará.
Respondendo a um desabafo do comediante Whindersson Nunes, natural do Piauí, que reclamava da xenofobia presente nas redes sociais ontem, um perfil apontou prevalência de Lula em regiões com maior analfabetismo. Apesar de o Nordeste de fato concentrar estados com índices elevados de analfabetismo na comparação nacional, o cenário tem melhorado, e o Ceará, por exemplo, tem 18 municípios entre os 20 brasileiros com maiores notas no Ioeb (Índice de Oportunidades da Educação Brasileira) de 2021.
Nordestinos votam em candidatos de esquerda e depois saem do seu estado pra tentar uma vida melhor sul.
Esse é o tweet
— Bruna Baracho (@Sinceramente_s2) October 3, 2022
A postagem acima traz uma já antiga alegação feita após as eleições de que supostamente os nordestinos viriam para outros estados por melhores condições de vida após votarem na esquerda. No entanto, segundo dados e estudos do IBGE, a migração do povo do Nordeste para outros estados não só está diminuindo, como há uma tendência de inversão, ou seja, mais pessoas escolhem localidades do Nordeste para se estabelecer. Pernambuco, em 2009, foi o estado brasileiro que mais recebeu de volta seus cidadãos. A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, em meio às hostilidades, publicou na tarde de hoje (3) um story no Instagram com uma imagem do mapa do Nordeste, dizendo que a região seria “abençoada por Deus”.
Fonte: UOL Eleições 2022